Quando chegará a sua hora de ser substituído por um robô? Idealmente nunca! Depois de dois anos de “corrida pela inteligência artificial”, começa a ficar claro que aumentar a produtividade de profissionais com essa tecnologia é melhor que trocar pessoas por máquinas. Mas na ânsia de tirar proveito da IA, empresas falham ao dedicar muito tempo para descobrirem formas de usá-la e pouco para avaliar o impacto que ela causará em seus funcionários.
Nesse sentido, foi interessante observar na semana passada uma grande preocupação do impacto do uso da IA na vida das pessoas, durante a conferência Gartner CIO & IT Executive, mesmo sendo um evento de natureza técnica, que aconteceu em São Paulo.
“Os funcionários não se sentem parte da jornada da IA”, explicou Alicia Mullery, vice-presidente do Gartner. “Apenas 14% dos líderes de RH estão envolvidos em conversas sobre IA, e isso e terrível, porque isso impacta muito as pessoas nas organizações”, acrescentou.
Segundo uma pesquisa recente da consultoria sobre o uso da IA, 47% das empresas se preocupam com os impactos da IA nas necessidades e nos sentimentos de suas equipes, mas apenas 20% tentam mitigar os problemas decorrentes disso.
À medida que compreendemos melhor essa tecnologia e nos apropriamos dela, fica mais claro que a IA substituirá tarefas e não funções inteiras. Com isso, as pessoas ficarão com mais tempo livre, que poderá ser usado na execução de novas tarefas.
Para Mullery, as empresas devem se preocupar não apenas com o funcionário, mas com a pessoa. Dessa forma, os gestores precisam identificar como a IA impacta o trabalho de cada profissional, mas também a sua identidade e a sua vida.
Outro vice-presidente do Gartner, David Furlonger, apresentou algumas previsões sobre o uso da IA nos próximos anos, e muitas delas tratavam especificamente de pessoas. Uma das mais perturbadoras é a criação de “personas digitais”, que poderão simular profissionais com seu conhecimento, ideias, estilo e personalidade. Isso abre incríveis oportunidades, mas também muitos questionamentos. É possível “licenciar” o que somos? Como isso seria remunerado? E o que acontecerá quando mudarmos de emprego?
O executivo disse também que, até 2028, 40% das grandes empresas devem usar a IA para identificar comportamentos de seus funcionários, convencê-los sobre o que quiserem e até manipular seu humor! Para muitos, parece uma boa ideia, mas ele lembrou que isso levanta sérios aspectos éticos, e pode corroer a relação de confiança entre empregado e empregador.
Ele teme também que a IA comece a “viciar” pessoas no seu uso. Por isso, segundo ele, até 2028, 70% das empresas devem implantar políticas de “desintoxicação digital” em suas equipes.
A IA já impacta de forma diversa pessoas diferentes. Segundo o Gartner, seus ganhos aparecem mais entre profissionais iniciantes executando tarefas pouco complexas, mas também brilham no outro extremo, com pessoas experientes executando tarefas sofisticadas. Os ganhos seriam menos apreciáveis no que existe entre ambos.
Os gestores devem convidar suas equipes a cocriar as implantações da IA no negócio. Devem desenvolver uma aproximação centralizada nas pessoas, e não na tecnologia. As lideranças desempenham um papel fundamental de demonstrar entusiasmo consciente com a tecnologia, mas também de explicá-la e acolher as equipes.
As empresas estão sendo desafiadas a fazer mudanças inéditas para “pular no barco da IA”. Com isso, precisam entender que devem ser muito cuidadosas com suas equipes nesse processo, sob o risco de colocar seu investimento a perder. Mais que especialistas em máquinas, nesse momento necessitamos de especialistas em pessoas!
Para descobrir outros pontos valiosos que vi na conferência do Gartner, convido você a assistir ao vídeo da minha Pílula de Cultura Digital dessa semana.