Sou palmeirense. Fanático. Daqueles que choram em final, que não assiste pênalti, que acredita até o último segundo — e que nunca aceitou que o título de 1951 fosse tratado como algo menor. Sempre defendi, com o coração e com fatos, que a Copa Rio de 1951 foi o primeiro Mundial de Clubes da história. Mas, por décadas, tive que ouvir piadinhas, provocações e uma constante tentativa de reescrever a história, por parte de torcedores de times que até a década de 90 nem tinham passaporte, eram anões internacionais.
Se o Campeonato Brasileiro foi criado em 1971, isso não significa que o Brasil não tinha torneios nacionais, tinha, mas usavam outros nomes, e o Palmeiras já tinha vencido vários (junto com Santos de Pelé). Se o Brasil não tinha ganho torneios internacionais de relevância antes de 1958, uma pena, mas o Palmeiras já tinha ganho vários, contra os maiores clubes do mundo, isso chama-se história. E para entender o presente é fundamental conhecermos nossa história, mas a preguiça e o clubismo impedem muitos torcedores de fazer esse pequeno esforço.
Foi por isso que assistir à série “Copa Rio, Vira-Latas e o Supermundial”, lançada pela ESPN e disponível no Disney+, foi uma experiência que me lavou a alma. Pela primeira vez, vi uma produção de peso, com qualidade cinematográfica e jornalismo sério, contar a verdadeira história daquele título que nós, palmeirenses, sempre soubemos que tinha valor de Mundial.
Uma narrativa que respeita o torcedor e honra os heróis de 51
A série é dividida em três episódios, mas poderia ter dez que eu assistiria com o mesmo entusiasmo. Ela vai muito além da polêmica sobre o “tem ou não tem Mundial”. Ela resgata o contexto, mostra os bastidores, a relevância internacional, e traz depoimentos de ex-jogadores, jornalistas renomados, historiadores e até figuras da FIFA que reconhecem o peso daquele torneio.
Quando ouvi Zico dizer que o torneio de 1951 era sim um campeonato mundial, ou vi Ronaldo Fenômeno tratar o assunto com o respeito que merece, senti um orgulho que não cabe no peito. Não é só o reconhecimento da FIFA que importa — é o reconhecimento da história, da verdade.

O trauma de 1950 e a redenção de 1951
A série também mergulha em um Brasil ferido após a derrota na Copa de 1950. O “complexo de vira-lata”, como bem definiu Nelson Rodrigues, rondava o país. E foi justamente naquele cenário que o Palmeiras, representando o futebol brasileiro, venceu a Juventus da Itália e mostrou ao mundo do que o Brasil era capaz.
Ali, o futebol brasileiro começou a se reerguer. Foi o começo da nossa identidade como potência do futebol. E ver isso retratado com tanta profundidade me emocionou mais do que eu esperava.
Para quem duvidou, a história está contada
Sempre teve quem diminuísse. “Ah, mas não era oficial”, “ah, mas não tinha os europeus todos”… Pois agora não dá mais para ignorar: a Copa Rio de 1951 foi o embrião do Mundial de Clubes, uma iniciativa única da época, que reuniu campeões nacionais da Europa e da América do Sul, com o respaldo da CBD e dos jornais da época chamando de “Campeonato Mundial”.
E o melhor de tudo é ver que não sou só eu que penso assim. A série mostra que historiadores sérios, especialistas, jornalistas respeitados — gente que estudou, que viveu o futebol — também enxergam a importância daquele título.

Um presente para o torcedor apaixonado
Como torcedor, saio da série emocionado. Como palmeirense, saio orgulhoso. Como brasileiro, saio esperançoso de que a história do nosso futebol comece a ser contada com mais justiça. Não é sobre vaidade — é sobre dar valor ao que nossos clubes fizeram quando o mundo ainda estava se reorganizando depois da guerra.
A ESPN está de parabéns. Fez um trabalho que não apenas informa, mas que também reconcilia o torcedor com a própria história. E para nós, da torcida alviverde, é a prova definitiva: o Mundial de 1951 foi real, foi gigante, e foi nosso.
Avanti Palestra. A história é verde. E agora, o mundo inteiro sabe.