Um debate urgente está ganhando força no Reino Unido: o uso de celulares para filmagens não autorizadas em ambientes hospitalares. Médicos e profissionais da saúde estão cada vez mais preocupados com a tendência de pacientes gravarem atendimentos e procedimentos sem permissão, muitas vezes com o objetivo de compartilhar os vídeos nas redes sociais como TikTok, Instagram e blogs pessoais.
A Society of Radiographers (SoR), uma das entidades médicas mais respeitadas do país, publicou um alerta oficial sobre o crescimento dessa prática, que coloca em risco a privacidade tanto dos profissionais quanto de outros pacientes. Segundo Dean Rogers, diretor de estratégia industrial da SoR, as gravações clandestinas levantam sérias preocupações sobre a quebra de confidencialidade e a segurança jurídica dos trabalhadores da saúde.
“Como profissionais de saúde, precisamos refletir: essa gravação não está violando a confidencialidade de outros pacientes?”, questiona Rogers.
O novo comportamento digital nos hospitais
Casos recentes mostram o impacto direto nas equipes médicas. A terapeuta radiologista Ashley d’Aquino relatou um episódio em que um paciente pediu ajuda para tirar uma foto, mas ao pegar o celular, a profissional descobriu que estava sendo gravada secretamente para um blog sobre câncer.
“Usamos crachás com nossos nomes. Qualquer vídeo pode nos expor publicamente, sem nosso consentimento. Isso gera desconforto e ansiedade”, explicou Ashley.
Além da exposição pessoal, existe o risco de vazamento de dados médicos sensíveis, o que fere diretrizes de privacidade e ética médica. Em um ambiente onde a confiança é fundamental, o ato de gravar sem permissão pode comprometer a relação entre paciente e profissional — e gerar implicações legais graves.
A banalização do conteúdo médico nas redes
O problema reflete um fenômeno mais amplo: a “tiktokização” da vida pessoal. A necessidade constante de produzir conteúdo, ganhar engajamento ou relatar rotinas em primeira pessoa tem levado muitos usuários a ignorarem os limites da privacidade alheia. O ambiente clínico, no entanto, não é um palco para likes e visualizações.
Essa realidade levanta uma questão crítica para as plataformas sociais e para as políticas hospitalares: como equilibrar liberdade digital e responsabilidade ética?
O que está sendo proposto?
A SoR propõe a proibição total de filmagens em ambientes hospitalares e clínicas, exceto quando autorizadas por ambas as partes. A medida visa proteger tanto a equipe médica quanto outros pacientes presentes, que podem ser gravados involuntariamente.
Hospitais também estão revisando suas políticas internas para lidar com o novo desafio imposto pela era das redes sociais.
O que parece ser apenas um registro pessoal pode, na prática, colocar em xeque direitos fundamentais como privacidade, sigilo médico e dignidade profissional. No mundo hiperconectado, ética digital deve ser parte da educação básica — inclusive dentro dos hospitais.