Desde o aclamado filme de 2019, Coringa, dirigido por Todd Phillips e estrelado por Joaquin Phoenix, os fãs se perguntam: quando veremos o Coringa assumir plenamente seu papel como o vilão clássico da DC Comics? O primeiro filme foi elogiado por sua abordagem crua e psicológica do personagem, mas também gerou uma expectativa: quando veremos Arthur Fleck se tornar de fato o Coringa, o mestre do crime de Gotham?
No primeiro filme, Phillips focou em mostrar o lento declínio de Fleck em direção à insanidade, sua metamorfose gradual no personagem icônico. No entanto, faltou a ação que caracterizaria o vilão dos quadrinhos: roubos elaborados, manipulação psicológica e o confronto com o jovem Bruce Wayne, que um dia se tornará o Batman. Fleck pode ter adotado a maquiagem e o terno característico, mas, de fato, ele ainda não era o Coringa que conhecemos.
O Que Esperávamos de Coringa: Delírio a Dois
Com o anúncio da sequência, Coringa: Delírio a Dois, a expectativa era ver Fleck em sua fase de criminalidade organizada. Afinal, o primeiro filme foi bem-sucedido ao desconstruir a origem do personagem, então a sequência parecia a oportunidade perfeita para ele se consolidar como o principal inimigo de Gotham. Mas Phillips mais uma vez decidiu subverter as expectativas, escolhendo continuar a explorar o drama psicológico de Fleck, agora dentro do manicômio de Arkham.
Para muitos, essa escolha representa uma ousadia criativa. Ao invés de seguir o caminho previsível e satisfazer os fãs com a ação típica de um filme de vilão, Phillips decidiu focar na fragilidade emocional de Fleck. Embora essa abordagem tenha valor, também frustra aqueles que esperavam uma evolução mais dinâmica do personagem.
Uma Sequência Focada no Psiquê, Não no Crime
Grande parte de Coringa: Delírio a Dois se passa no manicômio Arkham, com Fleck lidando com sua própria sanidade. A outra metade do filme se desenrola no tribunal, onde sua advogada tenta provar que Arthur Fleck e o Coringa são duas personas distintas. Esse foco em debates psicológicos e no sistema judiciário pode ser fascinante para quem aprecia a complexidade do personagem, mas para os fãs que ansiavam por ver Fleck em ação, o filme deixa a desejar.
Ainda mais frustrante é a aparição de Harvey Dent, o futuro vilão Duas-Caras. A presença de Dent no filme sugere que estamos à beira de ver vilões clássicos surgirem, mas, mais uma vez, Phillips opta por não seguir por esse caminho. Fleck, Harvey Dent e, em certo momento, Harley Quinn são apresentados de maneira introspectiva, mas nenhum deles assume totalmente seu papel como vilões icônicos.
Lady Gaga como Harley Quinn
Uma das maiores novidades de Coringa: Delírio a Dois é a presença de Lady Gaga como Harley Quinn. Nesta versão, Lee Quinzel é uma fã que incentiva Fleck a abandonar sua reclusão e abraçar novamente sua identidade como o Coringa. A química entre Gaga e Phoenix tinha potencial para ser explosiva, mas, no fim, acaba sendo menos impactante do que se esperava. As cenas musicais, que poderiam trazer um dinamismo caótico ao filme, acabam parecendo forçadas e não fazem a história avançar como deveriam.
Falta de Imersão nos Planos do Coringa
Os números musicais, embora inovadores, desaceleram o ritmo do filme. Em vez de explorar o lado estratégico e manipulador do Coringa, Phillips nos dá cenas de música e dança que, embora estilisticamente interessantes, não fazem jus ao legado do personagem. Enquanto Lady Gaga brilha nas canções, a performance de Joaquin Phoenix acaba se perdendo em momentos que deveriam ser mais intensos e dramáticos.
Uma Desconstrução que Pode Ser Frustrante
O que Phillips parece estar fazendo com essa sequência é uma resposta ao impacto cultural do primeiro filme. Em Coringa: Delírio a Dois, o diretor parece querer desmistificar a imagem de Fleck como uma figura revolucionária. Enquanto alguns o viam como um herói subversivo que lutava contra o sistema, Phillips deixa claro que Fleck não passa de um homem egoísta e covarde, sem um verdadeiro propósito. Essa escolha pode ser vista como uma crítica ousada, mas também aliena aqueles que esperavam ver o Coringa em todo o seu esplendor caótico.
O Dilema de Phillips: Arte ou Entretenimento?
No fim, Coringa: Delírio a Dois é um filme que divide opiniões. A abordagem introspectiva e psicológica pode ser vista como uma evolução ousada no cinema de super-heróis, mas também pode ser encarada como uma oportunidade perdida. Faltou ação, faltou o vilão clássico. Phillips claramente quer oferecer algo diferente, mas essa diferença pode ter custado o engajamento do público que esperava ver o Coringa em seu auge.
Crítica à Proposta de Phillips
Ao optar por desconstruir o personagem novamente, Phillips corre o risco de parecer pretensioso. Enquanto a crítica social do primeiro filme foi bem recebida, esta sequência parece não ter a mesma profundidade. A sensação é de que faltou enredo, e os momentos musicais e de introspecção apenas disfarçam essa ausência. Para alguns, isso pode ser interpretado como uma ousadia artística, mas para muitos fãs do Coringa, isso é simplesmente decepcionante.
Uma Reflexão Final sobre o Filme
No fim das contas, Coringa: Delírio a Dois pode ser interpretado como uma reflexão sobre a própria recepção do primeiro filme. Phillips parece estar criticando a ideia de Fleck como um herói revolucionário, mas ao fazer isso, ele aliena parte do público que esperava algo mais próximo dos quadrinhos. O filme é, sem dúvida, uma obra intrigante, mas fica aquém das expectativas de quem queria ver o Coringa em plena ação.
Resumo para quem está com pressa:
- Coringa: Delírio a Dois continua a focar na fragilidade psicológica de Arthur Fleck, frustrando quem esperava ver o vilão clássico em ação.
- O filme se passa principalmente no manicômio Arkham e no tribunal, com longos debates sobre a sanidade de Fleck.
- Lady Gaga brilha como Harley Quinn, mas suas cenas musicais desaceleram o ritmo do filme.
- Não vemos Fleck como o mestre do crime de Gotham, apenas como um homem ainda lutando contra sua própria identidade.
- O filme desconstrói a imagem revolucionária de Fleck, apresentando-o como egoísta e covarde.
- A abordagem introspectiva pode ser vista como uma ousadia artística, mas também decepciona os fãs do Coringa.