O Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) está em uma corrida contra o tempo para lançar sua versão de “nuvem soberana” ainda este ano. A iniciativa visa criar um ambiente seguro para armazenar dados sensíveis do governo brasileiro, mas, para alcançar esse objetivo, a estatal tem mantido diálogos com empresas multinacionais do setor. Um desses encontros ocorreu na última terça-feira, quando a diretoria do Serpro, liderada pelo presidente Alexandre Amorim, reuniu-se com representantes da AWS (Amazon Web Services). A pauta da reunião foi focada em “Segurança da Informação”.
Reunião com ex diretor da CIA
A AWS trouxe para a reunião um peso pesado: Sean P. Roche, executivo sênior de soluções globais de segurança nacional da empresa, com uma vasta experiência no setor de inteligência. Roche foi vice-diretor da Diretoria de Ciência e Tecnologia da CIA (Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos) entre 2015 e 2019, onde liderou a digitalização das missões da agência e supervisionou operações de inteligência cibernética e coleta de dados.
Além de sua experiência na CIA, Roche possui uma longa carreira militar. Ele serviu como coronel na Força Aérea dos Estados Unidos, atuando em operações importantes na Bósnia, Iraque e Afeganistão. Sua contribuição ao contraterrorismo e à inteligência o rendeu diversos prêmios presidenciais e militares, incluindo o maior reconhecimento da CIA por promover diversidade e inclusão na força de trabalho da agência.
Dúvidas sobre soberania do projeto
Embora detalhes sobre a proposta apresentada pela AWS para a “nuvem soberana” do Serpro não tenham sido divulgados oficialmente, a parceria levanta questionamentos sobre a real autonomia do projeto brasileiro. A presença de uma gigante como a AWS, que já presta serviços a várias agências governamentais e de segurança internacionais, sugere que a nuvem desenvolvida pelo Serpro pode contar com tecnologias e soluções estrangeiras, colocando em dúvida a total soberania do projeto.
O que é a “Nuvem Soberana”
A “nuvem soberana” é um conceito que visa garantir que os dados do governo brasileiro fiquem protegidos de qualquer interferência ou acesso não autorizado por entidades estrangeiras. No entanto, com a participação de empresas internacionais, especialmente uma com forte ligação com órgãos de inteligência como a AWS, surgem dúvidas sobre até que ponto essa soberania será, de fato, preservada.
Outro ponto que chama a atenção é a ausência de participação da Dataprev, outra estatal responsável pelo processamento de dados governamentais. Apesar do discurso do governo de que Serpro e Dataprev são parceiras na construção de uma nuvem segura e “verde-amarela”, não há informações de que algum representante da Dataprev tenha participado dessa reunião com a AWS.
A possível dependência de tecnologia estrangeira para construir a nuvem soberana do Brasil é um tema delicado, especialmente em um momento em que a proteção de dados e a soberania digital são cada vez mais importantes. A falta de clareza sobre a verdadeira autonomia do projeto pode gerar discussões futuras sobre a viabilidade de manter os dados governamentais longe da “bisbilhotice estrangeira”, como é frequentemente mencionado pelo governo.
Mesmo com a presença de empresas internacionais na elaboração da nuvem soberana, o Serpro continua seu esforço para entregar um projeto que atenda às exigências de segurança e privacidade do governo brasileiro. No entanto, a inclusão de tecnologias estrangeiras no processo levanta preocupações sobre a verdadeira soberania da solução final.
Importância da AWS para sucesso do projeto
Enquanto isso, a parceria com a AWS demonstra que o Serpro está buscando soluções robustas e testadas globalmente para atender às demandas do governo. A experiência da AWS em lidar com questões de segurança nacional e proteção de dados pode ser um trunfo importante para o sucesso do projeto.
A participação de Sean Roche, com seu extenso currículo em operações de inteligência e segurança cibernética, reforça o compromisso da AWS em fornecer soluções avançadas e seguras para o Serpro. No entanto, resta saber se o Brasil conseguirá realmente manter o controle sobre suas informações mais sensíveis em um ambiente de “nuvem soberana”.
Resumo para quem está com pressa:
- O Serpro busca lançar sua “nuvem soberana” até o fim do ano, com o apoio de empresas internacionais.
- A estatal se reuniu com representantes da AWS, que trouxeram o executivo sênior Sean P. Roche, ex-CIA, para discutir segurança.
- A participação da AWS levanta dúvidas sobre a autonomia do projeto, dada sua ligação com agências internacionais de inteligência.
- A Dataprev, que deveria ser parceira do Serpro, não participou da reunião com a AWS.
- A “nuvem soberana” visa proteger dados brasileiros de acesso estrangeiro, mas a dependência de tecnologia externa gera questionamentos.
- A AWS oferece soluções robustas e testadas, mas há incertezas sobre a soberania do controle de dados do governo brasileiro.